Autárquicas 2021 | Mafra – Entrevista com Eunice Quintas [Iniciativa Liberal]

 

Jornal de Mafra (JM) – Quem é Eunice Quintas, a candidata da Iniciativa Liberal à presidência da  Câmara Municipal de Mafra?
Eunice Quintas (IL) –
Sou uma jovem saloia que nasceu na maternidade Magalhães Coutinho, na Estefânia, em Lisboa, porque em Mafra não havia maternidade. Fiz aqui a escola até ao 11.º ano, todos os meus amigos de infância e toda a família de pai e de mãe são daqui.

Licenciei-me em gestão no ISG (Instituto Superior de Gestão), em 1994, mas sempre ajudei os meus pais. O meu primeiro emprego, ainda estava na faculdade, foi no Instituto Português da Juventude, uma excelente forma de me integrar na vida ativa. Uma vez formada, sempre trabalhei em marketing, primeiro na banca, depois na televisão e no ano 2000 comecei a trabalhar como gestora de produto na então Telecel, atual Vodafone, onde fiz a minha carreira e onde trabalho atualmente como gestora na área de retalho.

Gosto de aprender e por isso fiz pós-graduações em marketing de serviços e em comunicação e mais recentemente fiz um curso de liderança na Nova SBE.

O fim do governo de Passos Coelho e a forma como o atual governo se instalou, uma forma muito pouco democrática, foi aquilo que me fez acordar definitivamente para a política

Sou casada, tenho um filho com dois anos e meio, e um grande orgulho por ter sido mãe aos 48 anos. Gosto muito da natureza e o meu hobbie principal, agora que estou muito virada para a maternidade, passa pelo ioga, por caminhar. Sou curiosa e dinâmica, luto sempre por aquilo que sonho e estou sempre atenta ao que se passa na sociedade e também tenho energia para dar e vender.

Participo ativamente no mosteiro budista Theravada de Pinhal dos Frades, do qual sou mecenas, onde vi uma forma de evolução espiritual que constitui uma parte importante da minha vida.

JM – Como surgiu este apelo para a participação política? Esta é a sua primeira experiência político-partidária?
Eunice Quintas (IL) –
Primeiríssima.

O apelo entrou-me pela porta principal, por assim dizer, o meu marido formou-se em ciência política e fez-me ver o outro lado da política, o seu lado interventivo e positivo, não aquele que nos entra pelas televisões adentro. Fez-me ver que a política influencia a nossa vida, e juntando isso ao meu inconformismo e o sentir que ganhava cada vez menos e que cada vez fazia um esforço salarial maior, apercebi-me que as opções políticas eram cada vez menos.

O fim do governo de Passos Coelho e a forma como o atual governo se instalou, uma forma muito pouco democrática, foi aquilo que me fez acordar definitivamente para a política.

Em dezembro de 2019 decidi aderir ao Iniciativa Liberal. Por essa altura, o meu marido, que estava a criar o núcleo de Odivelas do IL pediu-me ajuda para fazer uma apresentação, sendo a partir daí, que entrei ativamente no partido.

Surgido o desafio das autárquicas em Mafra aceitei-o com prazer, porque esta é a minha terra e porque eu nunca teria saído de cá se tivesse aqui oportunidades de trabalho que me valorizassem e que me satisfizessem.

A política surge na minha vida, também devido ao meu inconformismo pela estagnação do país.

JM – Portanto, sentiu que os impostos que pagava não tinham retorno nos serviços que o estado lhe prestava, é isso?
Eunice Quintas (IL) –
Nem é a questão do retorno. Penso é que o estado deve ser o mais reduzido possível, para poder ser eu a decidir aquilo que quero fazer com o meu dinheiro.

Estou disposta a contribuir para o bem comum, apoiando a necessidade de haver solidariedade entre as pessoas. A ideia que o Iniciativa Liberal só se preocupa com a economia é um mito. O estado tem de estar presente quando é preciso e para servir as pessoas que efetivamente precisam, no momento em que elas precisam.

O que penso é que o estado está demasiado presente, afetando o esforço do nosso trabalho.

JM – Tem exercido o seu direito de voto nas várias eleições autárquicas?
Eunice Quintas (IL) – 
Sempre. Creio que falhei uma vez, por estar em férias e não ter conseguido chegar a tempo.

JM – Em quem tem votado?
Eunice Quintas (IL) – Votei sempre no PSD, um bocadinho a contragosto…

JM – Como define o liberalismo económico à luz da crise do subprime em 2007, que se tornou global, e mais recentemente, em Portugal, com os escandalos financeiros qiue envolveram o Banco Privado, o BPN e agora do BES?
Eunice Quintas (IL) – O liberalismo defende uma sociedade que se foca na garantia das liberdades políticas, económicas e sociais dos cidadãos e onde, de facto, o poder está nas pessoas, existindo sempre estado, cuja função é garantir que as leis são cumpridas, que a segurança é assegurada e que as necessidades básicas da sociedade são asseguradas.

Não podemos confundir uma sociedade liberal com outro tipo de conceitos, como capitalismo feroz ou mercados completamente desregulados. Vemos com bons olhos aquilo que acontece nos Estados Unidos, onde, quando acontecem fraudes muito grandes, as pessoas que as cometem são efetivamente julgadas e punidas. É uma sociedade em que a justiça funciona de uma forma mais incisiva e mais rápida, onde à liberdade se associa sempre a responsabilidade permitindo que cada um possa exercer os seus direitos e a sua liberdade, mas com uma justiça forte, que atua quando essa liberdade ultrapassa as leis que o estado definiu. Isto sim é uma sociedade equilibrada.

Libertar as pessoas, libertar Mafra de uma maioria absoluta, de uma carga fiscal que oprime as pessoas, de uma carga regulatória fortíssima

Em Portugal observa-se quase diariamente, um grande desequilíbrio no modo como a justiça atua e na punição de quem lesa os contribuintes e o estado. O estado português raramente consegue recuperar o dinheiro que pertence aos contribuintes.

O liberalismo representa uma sociedade onde há liberdade com responsabilidade.

JM – A ocorrência dos eventos que referimos anteriormente, não tem uma relação direta com o ambiente de liberalismo económico que então se vivia nos Estados Unidos e em Portugal?
Eunice Quintas (IL) –
Não creio. Se tivermos instituições fortes e se não ocorrerem casos como aqueles que a Iniciativa Liberal já denunciou, como a nomeação de um ex-ministro para Presidente do Banco de Portugal, e se for muito mais fácil e rápido atuar, não permitindo que os contribuintes sejam lesados como ocorreu com o BES ou com o BPN.

A regulação existe e tem de ser cumprida e as instituições têm de ser independentes do poder político.

JM – Em Mafra, os liberais têm por lema “libertar Mafra”. Libertar Mafra de quê ou de quem?
Eunice Quintas (IL) – É bastante simples. Libertar as pessoas, libertar Mafra de uma maioria absoluta, de uma carga fiscal que oprime as pessoas, de uma carga regulatória fortíssima, de uma carga burocrática em que a autarquia impõe mais regras, do que presta serviços eficientes.

Dar às pessoas mais liberdade e assegurar que a gestão autárquica serve as pessoas e que estas têm muito mais poder, muito mais participação, permitir-lhes resolver os seus problemas com maior rapidez, abrir os seus negócios, pedir licenças, pedir utilizações, retirar taxas e taxinhas, reduzir e muito, a presença da câmara naquilo que não é preciso, concentrando a autarquia naquilo que é fundamental, ou seja, a segurança, a garantia da legalidade, do bem-estar e da qualidade de vida ao nível dos serviços mais básicos.

Libertar Mafra significa dar mais liberdade às pessoas.

O que vi mesmo foi, da parte da gestão autárquica deste presidente, um comportamento muito absolutista. Vi com muita preocupação o facto de ele ter partilhado com os presidentes das juntas de freguesia, os nomes das pessoas que estavam infetadas

JM – Que avaliação faz da forma como em Mafra se se tem lutado contra a pandemia? Como olha para 183 mortos por covid-19 neste concelho?
Eunice Quintas (IL) – A pandemia é um marco muito importante, não só em Mafra, mas no país. Os números absolutos terão de ser sempre comparados e relativizados. Os mafrenses são muito ordeiros e não vi por aqui grandes contestações.

O que vi mesmo, foi da parte da gestão autárquica deste presidente, um comportamento muito absolutista. Vi com muita preocupação o facto de ele ter partilhado com os presidentes das juntas de freguesia, os nomes das pessoas que estavam infetadas, facto que deu mesmo origem a queixas na Comissão Nacional de Proteção de Dados.

Vejo que está instaurado o medo e vejo que não há uma forte preocupação com apoios sociais, com a liberalização dos horários da restauração, com a necessidade de dinamização da economia e com o avanço do concelho.

É o socialismo que está instalado assim. Obviamente, preocupa-nos a saúde pública e respeitamos a doença, mas defendemos que se respeitem os dados pessoais, que se respeite a liberdade individual e que se atue sobretudo ao nível da segurança e dos apoios sociais, de resto, este tema será tratado num dos capítulos do nosso programa, que iremos divulgar em breve. É nestas ocasiões que tem de haver estado.

JM – No concelho, a taxa de IMI está há muitos anos no valor máximo que a lei permite. Se for eleita mexe na taxa?
Eunice Quintas (IL) – Desço a taxa. Essa é uma das nossas principais bandeiras.

Procuraremos baixar a carga fiscal, não só o IMI. Mafra é o único concelho da AML (Área Metropolitana de Lisboa) com a taxa máxima, havendo um só concelho com 0,40, tendo todos os outros taxas mais baixas, e em Portugal só há 8 concelhos com a taxa máxima.

Mafra é um concelho caro para viver, sendo também um concelho estagnado em termos do rendimento médio mensal, o 4.º pior da AML

É mais que notório, que se passa qualquer coisa que não pode continuar, o IMI não pode continuar a constituir um custo tão elevado para os mafrenses. As taxas municipais ocupam 35 páginas no documento que lhes diz respeito, isto representa não só uma elevada carga fiscal, como constitui uma elevada carga burocrática.

Mafra é um concelho caro para viver, sendo também um concelho estagnado em termos do rendimento médio mensal, na verdade, o 4.º pior da AML. O poder de compra tem vindo sempre a descer nos últimos 10 anos, estando abaixo da média nacional.

Mafra está estagnada, é preciso criar mais empregos, em muito mais setores e não só na Ericeira. Mais crescimento económico, mais propriedade e um alivio da carga fiscal é o que a Iniciativa Liberal defende para Mafra.

JM – Baixaria a taxa se IMI para que valor?
Eunice Quintas (IL) – Prevemos que entre 2021 e 2025, a taxa de IMI se vá reduzindo até atingir 0,30%.

JM – Isso refletir-se-ia numa redução das receitas. Como compensará essa redução?
Eunice Quintas (IL) – Temos que fazer uma avaliação muito aprofundada do orçamento da câmara para reduziu os custos, avaliando por exemplo, o modo como são feitos os concursos públicos e as adjudicações aqui no concelho e aumentando a eficiência dos serviços, desburocratizando, descomplicando, extinguindo serviços que não serão sequer necessários, podendo ser assegurados com vantagem por entidades privadas, mas garantindo sempre que o serviço público mantem a qualidade.

JM – Como é que olha para o grande número de subsídios e de comodatos que atual gestão camarária distribui?
Eunice Quintas (IL) – A subsidiodependência torna muito difícil a autonomia e a evolução das sociedades, das pessoas e das organizações.

Quanto mais dermos a nível da educação e do conhecimento, quanto mais as pessoas tiverem um elevador social ativo, mais elas poderão ser autónomas. Não quer dizer que num determinado momento, não se apoiem determinadas pessoas ou organizações, mas sempre para as ajudar a tornarem-se autónomas, deixando de recorrer a um estado assistencialista.

A câmara deve atuar como facilitadora e dinamizadora da economia, atraindo mais empresas e a partir daí, as pessoas terão muito mais rendimentos e deixarão de ficar dependentes de subsídios e de comodatos. 

Por falar em comodatos, há pouco tempo vi no vosso jornal algo que também me preocupa muito, refiro-me à questão do comodato da Universidade dos Valores, lá em baixo na Vila Velha, que não foi respeitado pela câmara. Caso se venha a confirmar que a Câmara de Mafra não respeita os comodatos que assina, então isso é algo que nos preocupa. Pode haver soluções muito interessantes de cedência de espaços públicos, algo que nós vemos com bons olhos, nomeadamente para dinamizar a cultura, mas os contratos têm de ser respeitados.

JM – Qual é a proposta de política social da IL para o concelho?
Eunice Quintas (IL) –
Nesse aspeto temos várias ideias para este território. Uma das medidas passa por disponibilizar no concelho, um albergue para vitimas de violência doméstica.

Vamos também investir na participação política ativa das mulheres. A política pode ser uma atividade muito realizadora para as mulheres, desfazendo o mito de que a política é só para os homens, embora reconheça que não é fácil ser mulher na política. A questão da violência doméstica também tem de ser encarada e se há alguma coisa que se pode fazer para apoiar essas mulheres, é dar-lhes um abrigo.

JM – Na área da saúde prometeu mais médicos e um novo hospital. Quer pormenorizar como faria isso?
Eunice Quintas (IL) – A área da saúde é uma prioridade. Mais uma vez, o concelho de Mafra é o 4º ou 5º pior concelho da AML no que se refere ao rácio de médicos de família por habitante. Segundo dados de 2019, Mafra tinha 1 médico de família para 414 residentes, enquanto a média da AML é de 1 médico por 150 habitantes.

A pessoa que não tenha médico de família pode ser considerada órfã no sistema nacional de saúde. Se alguma coisa me chocou nesta pandemia foi o facto de o meu médico de família ter deixado de me atender, logo no momento em que eu precisava mais dele.

A necessidade de um hospital em Mafra é demasiado notória, portanto, seja através de fundos públicos, privados ou de parcerias público-privadas, é necessário encontrar uma solução

O mito de que os liberais não querem estado é aquilo a que nós chamamos o “papão liberal”. O estado deve existir para assegurar os serviços, que são a base da nossa sobrevivência, como é o caso da saúde.

A IL pretende alargar aos utentes o acesso a todos os meios de saúde, a toda a capacidade instalada, uma vez que não defendemos que seja só o serviço público aquele que deve ser prestado. Seja no serviço público ou no privado, o sistema deve financiar as pessoas e as pessoas devem poder escolher o médico que pretendem.

O hospital faz-nos muita falta. Cremos que não devemos ficar presos à ideia que deve ser o estado a financiar e a construir o hospital.

JM – Defende que esse hospital deve ser construído com fundos privados?
Eunice Quintas (IL) – Defendemos que o hospital preste um serviço público e que através de uma concessão privada, as pessoas possam usufruir dos seus serviços, como ocorre, por exemplo no Hospital Beatriz Ângelo, um hospital com bons rácios de qualidade e que proporciona uma boa poupança ao estado, como se pode verificar num recente relatório do Tribunal de Contas, que cifra essa poupança nos 230 milhões de euros nos últimos 10 anos.

Só por cegueira ideológica iremos ficar sem a concessão privada de um hospital que funciona bem, que tem uma boa gestão em termos de filas de espera, de cirurgias, etc… O Hospital de Braga perdeu a concessão privada e o que aconteceu foi ter baixado em todos os rácios de qualidade e de tempos de espera.

Defendemos a construção de um hospital no concelho, público ou privado, mas de preferência uma concessão privada.

JM – Quando diz “concessão privada” refere-se exatamente a que tipo de modelo?
Eunice Quintas (IL) – 
Temos de abrir todas as hipóteses, não temos de ficar dependentes da construção por parte do estado, uma vez que estão disponíveis muitas soluções. Não posso dizer que foi bem feito, mas a verdade é que em Mafra fez-se uma autoestrada municipal, o Ministro dos Santos conseguiu construir uma autoestrada. Mafra tem 80 000 pessoas, que têm de se deslocar uns 30 km para poderem recorrer a um hospital, a uma urgência.

A necessidade de um hospital em Mafra é demasiado notória, portanto, seja através de fundos públicos, privados ou de parcerias público-privadas, é necessário encontrar uma solução.

JM – O Iniciativa Liberal vai manter a candidatura até ao fim?
Eunice Quintas (IL) –
Está tudo alinhado para isso.

JM – A perspetiva de conversações entre a IL e o PSD está em cima da mesa?
Eunice Quintas (IL) – Não, nem pensar. Isso esta fechadíssimo. Nós vamos sozinhos, comigo como candidata à Câmara Municipal e com o Nuno Simões de Melo à Assembleia Municipal.

JM – Vão concorrer a alguma freguesia?
Eunice Quintas (IL) – Não, iremos concorrer só à Câmara Municipal e à Assembleia Municipal, tendo por objetivo a eleição de um deputado municipal.

 

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